Empatia

21/07/2020 17:35

Caí ao chão
Senti minhas faces quentes e vermelhas
Vermelhas
De vergonha
De choro
De sangue
Que importa?

Caí ao chão
Sentindo o tempo parar
Enquanto meu corpo tombava
Cambaleante
Em direção ao piso

Meus olhos tinham lágrimas?
Era isso que turvava minha visão?
Esse gosto amargo na minha boca?
Era medo?
Ou era mais um pouco
Do sangue
Que escorria dos meus cortes novos?

Meu cabelo tampava o meu rosto
Não reclamei
Não queria sustentar o seu olhar de repulsa
Que me dilacerou e me destruiu
Muito mais que a faca jogada no chão

Você foi embora
Saiu correndo pela porta dos fundos
Acho que algum vizinho ouviu a confusão
Você foi embora
Mas antes olhou para o meu corpo semiconsciente
E deu-lhe um forte pontapé de despedida

Resmunguei de dor
Mas a minha boca estava inchada
Queria gritar
Mas nem isso pude fazer com um pouco de dignidade
Dignidade parecia ser algo do qual eu não tinha mais direito

Fiquei ali
Moribunda e jogada
Estatelada
No chão frio da minha cozinha

Ouvi passos fortes
Entrando na minha casa
Não mexi um músculo
Não conseguia
Nem queria

Senti mãos fortes me erguerem
Ouvi gritos bruscos
Para onde eu estava indo mesmo?
Ninguém me disse

Senti mais uma vez meu rosto corar
Definitivamente era vergonha
Reparei no meu estado
Nossa, que desastre! Como isso aconteceu?

Joelhos ralados
Pernas roxas
Cortes e hematomas no meu rosto
E um rasgo contínuo no meu braço

Olhei para baixo
Não queria que ninguém me visse assim
Alguém estava falando
Era comigo?

Moça - disseram
Oh, moça... olha pra cá
E eu ergui minha cabeça com esforço
Moça - disse a pessoa que me ajudava
Não se preocupe, moça...

Olhei para o seus olhos
Mas não vi nojo
Não vi aversão
Não vi repulsa
Vi algo que já me parecia extinto
Coisa antiga, de outros tempos
Compaixão...

Você é mulher - disse
É forte, há de ficar bem
Eu esbocei um sorriso fraco
Senti as feridas repuxarem
Mas a dor diminuiu um pouco
Fui anestesiada
Anestesiada com a ternura da empatia.