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Coração Craquelado

30/03/2021 18:20

Coração Craquelado

perdeu pedaços

pelo caminho

formando uma trilha de migalhas até o meu peito oco

preenchido pelo vazio

pela falta que ele me faz

Coração Craquelado

deixou rastros

para você,

que procura por mim, 

possa me encontrar

Me ajudar a colar

os cacos

consertar o quebrado

Me ensinar a guardar

meu coração craquelado

Partido

mas ainda vivo

de volta no meu peito

antes morno, agora gelado

Guardá-lo

De volta no meu peito

O lugar ao qual ele pertence.

Estrelas Espectadoras

30/03/2021 18:15

Observando o céu

Nesse pedaço de mundo

Esquecido pelo tempo e pelas

estrelas

Segundos congelam

ao te ver passar

Eu congelo

sob o seu olhar morno

Estamos

Observando o céu

Sua mão sobre a minha 

Caçando as estrelas que

parecem lembrar-se de nós

Brilham fortes

ao nos ver lutar

Para fugir do tempo

E viver na noite eterna

Nós

e as estrelas que ouvem nossos pedidos

e guardam nossos segredos

No infinito da noite.

Fantasma

30/03/2021 18:08

Espectral

Fantasmagórico

Irreal

Sou o vazio alegórico

Metaforicamente inexistente

Praticamente invisível, serviente

Agora você me vê, intangível

Agora existo, imperceptível

Existo sem marcar pegadas no chão

Ao seu lado, sou desapercebido

Entreguei meu coração

Aquele que não se faz notar

acaba por desaparecer

Minha imagem começa a esmaecer

E tudo que sobra é...você

Carregando o coração pulsante

de um fantasma obediente

Que jamais deveria ter se apagado

para ser mais um mero servente

de outro ego inflado.

Confissões de uma Ausente

30/03/2021 18:04

Mas eu estava atrasada

Para os momentos felizes

para o amor

Atrasada para as festas e danças e conversas e risos

Atrasada, correndo atrás

de uma vida que passou

Me deixou para trás, vendo-a andar

Atrasada

para todos os momentos

Exceto para a morte, que é pontual

Apenas para a minha hora

cheguei em tempo

de despedir-me de todos os

momentos que perdi.

Em suas águas

30/03/2021 17:59

As ondas me chamam para longe

O vento puxa meus cabelos

Chamam-me até o horizonte

Ao lado dele

Pois seus beijos tem gosto de mar

Seus olhos

azul-profundo, verde-água

E suas lágrimas de alívio

Ao perceber que o norte da minha bússula

aponta em sua direção

são toda a água sagrada que preciso

Sereias me perdoem, nereidas, deixem-me ir

Ele é meu oceano, meu lar

E eu?

Navego em suas águas calmas, pacientes

Banhadas pelo sorriso de uma lua crescente

Em paz.

Leveza

30/03/2021 17:55

Me leve para a leve casa

flutuando entre nuvens e folêgos

Leve-me para onde eu pertenço

Pois nesse ar parado, estagnado

pesado

Enlouqueço

Me leve para a leve casa

Etéreo espaço celestial

Sem o sufoco gravitacional

Que curva minha cabeça para baixo

Leve-me

Para casa

Livre-me 

Das pedras que tenho nos bolsos

Que me prendem ao chão

Pedras e tropeços

Que guardei

Aqueles que voam não caem

Não preciam olhar o solo

Leve-me, leve

Como antes nunca fui.

Aquiles

30/03/2021 17:49

Aquiles

Não sinta-se mal

O desbanhado calcanhar

Não era fraqueza

Seu erro foi esquecer

que toda carne sangra

toda chama se apaga

todo homem chora

O humano não pode ser apagado

O mortal, imortalizado

Morrer é o natural

É o custo de cada folêgo

Tropêgo

O custo da vida é morrer

E não há água sagrada

Que lave a dívida 

e a dádiva 

que foi nascer

Ao final, 

faça o preço ser bem pago

faça cada folêgo custoso

valer

Aquiles,

Não sinta-se mal por morrer

Para isso basta estar vivo.

Âmago

14/12/2020 18:00

Submergi em meu próprio inconsciente

Mergulhei sem medo, de cabeça

Afundei no lago escuro, nas profundezas

Tão longe da borda rasa de meus pensamentos

Mais e mais

Me perdi em devaneios

Sem enxergar o fundo

Sem enxergar o mundo

Imersa, isolada

Perdida nas sombras de minha mente inquieta

Aquela faceta desconhecida

Buscando se encontrar

Buscando transbordar

Sempre mais e mais...

Até o fundo

O tempo passou

O medo passou

A mágoa que me afogava o peito

Passou também

O peito desobstruído

Clamou por ar

Os olhos cansados

Buscaram luz

E calor

Emoção

Que não estariam ali na racionalidade fria

Afundei

Mais e mais

Da cabeça cheguei ao peito morno

Até a essência brilhante

Até o farol submerso

E nadei em direção a luz

Sem nunca mais emergir.

Nas falsas águas paradas da superfície.Submergi em meu próprio inconsciente
Mergulhei sem medo, de cabeça 
Afundei no lago escuro, nas profundezas
Tão longe da borda rasa de meus pensamentos
Mais e mais
Me perdi em devaneios
Sem enxergar o fundo
Sem enxergar o mundo
Imersa, isolada
Perdida nas sombras de minha mente inquieta
Aquela faceta desconhecida
Buscando se encontrar
Buscando transbordar
Sempre mais e mais...
Até o fundo
O tempo passou
O medo passou
A mágoa que me afogava o peito
Passou também
O peito desobstruído
Clamou por ar
Os olhos cansados
Buscaram luz
E calor
Emoção
Que não estariam ali na racionalidade fria
Afundei 
Mais e mais
Da cabeça cheguei ao peito morno
Até a essência brilhante
Até o farol submerso
E nadei em direção a luz 
Sem nunca mais emergir
Nas falsas águas paradas da superfície.

Geração Plástico

14/12/2020 17:59

Nasci

Com traços de mamãe

E papai insistia em dizer que foi ele que puxei

Cresci

E desapeguei

Dessa herança genética

Velharia cultural

Atualizei

Recortei, copiei e colei

Não me contentei com o pouco

O pouco que fui

Para que a vida se não para evoluir?

Evoluí em traços

Refinei contornos

Filtrei

Apaguei

As marcas que a vida me deu

Pois neste livro quem escreve sou eu

Nasci

Com traços de mamãe

E a semelhança é inegável

Pois mamãe escolheu o mesmo catálogo

de corpos, de faces

E o azar

Foi todo de vovó.

 

Baile de Máscaras 2

14/12/2020 17:57

Máscaras. Máscaras para proteção. Máscaras para anonimato. Máscaras para rituais. Máscaras teatrais. Máscaras – eis um acessório que não surgiu durante a pandemia e, nem após ela, sumirá.

                Máscara – a maquiagem com que cobrimos nossos rostos, expressões, personalidades. Para sermos quem? Quem gostaríamos de ser. Por um dia, uma noite, uma vida (certas máscaras nunca caem).

 Alguns querem ser eternos, felizes, jovens. Alguns querem ser invisíveis. Alguns querem ser tudo o que não o são. Algumas máscaras são de plástico. Algumas são de pano. Algumas de papel. Algumas são telas luminosas. Algumas são de carne e sorrisos. Algumas são feitas por palavras belas e ocas.

Para proteger quem? Os outros ou a mim? Com quantos anos recortei as máscaras que ainda uso hoje? Quando aprendi a estampar sorrisos? Contar mentiras?  Proteger (esconder) o âmago do meu ser? Meus pensamentos?

Hipocrisia minha definir que uso máscaras, ergo barreiras, pois fui socialmente alienada. Há tempos crio consciência e as lantejoulas que brilham em meu rosto eu mesma coloquei, para desviar a atenção dos meus olhos. Hipocrisia dizer que não me sinto segura assim – nesse mundo virtual que eu colori.

Com o tempo aprendo a diminuir o brilho, as meias palavras, os olhares incertos. Aos poucos dispo-me das camadas que colei. Mas ao andar nas ruas, sempre terei uma restante para me proteger do sol e dos olhares estranhos – pois nudez de personalidade é atentado ao pudor.  

A máscara, a máscara social, a máscara não cai...

é retirada...

Bem

       De

             Va

                  Ga

                       Ri 

                           Nho.

 

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